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MG - Setor de serviços se torna engrenagem fundamental para alavancar a economia
Empurrado pela melhora da renda no Brasil e o aumento do crédito, setor cresceu 43,3% em 10 anos alimentado pela expansão de escolas, comércio, bancos e empresas de telefonia
Em endereços valorizados do Centro de Belo Horizonte, as escolas do grupo mineiro Bom Pastor formaram 1 mil pessoas no ano passado nos cursos de cabeleireiro, manicure, estética facial e corporal. Entre investidores no ramo dos salões de beleza e gente que passou a ganhar a vida como dono do negócio próprio ou empregado, os alunos diplomados foram ao mercado de consumo com mais força e poder de compra. Boa parte deles tomou crédito nos bancos ou financeiras para investir na montagem da própria empresa e deu emprego a outras pessoas, movimentando também o comércio de material e equipamentos. Os fornecedores, provavelmente, tiveram de investir para atender ao aumento da demanda, que vai continuar surgindo nas salas de aula.
Essa engrenagem, capaz de fazer toda a economia girar a partir de um conjunto de atividades que vão se somando, é que explica como o setor de serviços se transformou numa alavanca do crescimento da economia brasileira. No ano passado, garantiu a taxa, modesta, de 0,9% de expansão do país, mas a força desse segmento cresce há pelo menos 10 anos. Das escolas às empresas do comércio em geral, incluindo de supermercados a lotéricas, operadoras de telefonia, desenvolvedores de programas de computador, bancos, hotéis, transportadoras e até os clubes de futebol, o guarda-chuva do setor de serviços acumulou de 2003 e 2012 crescimento de 43,3% (veja o quadro).
O desempenho representou mais que o dobro da expansão da indústria de transformação brasileira e quase 11 pontos percentuais à frente da performance da agropecuária, de 32,6% no período analisado. Os números foram apurados pelo Estado de Minas com base na série de dados usados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para medir a evolução real da economia, retratada no Produto Interno Bruto (PIB). As taxas são resultado da chamada série encadeada do índice de volume trimestral do PIB. O setor de serviços é a perna mais robusta que sustenta a economia brasileira, com uma participação de 69,8%, em 2012, do bolo que compõe o PIB brasileiro de R$ 4,403 trilhões.
Em Minas Gerais e Belo Horizonte, uma capital tipicamente influenciada pela dinâmica do setor de prestação de serviços em diversas atividades, essa contribuição é também expressiva, de 57,9% e 69,4%, respectivamente. Relatório divulgado na quarta-feira pela Fundação João Pinheiro mostrou que os serviços cresceram 2,3% no estado, em média, no ano passado, frente à expansão de 1,5% da indústria. Graças ao peso que o café tem na produção do estado, a agropecuária cresceu 4,4%.
Com renda e muito crédito
O crescimento da renda e do emprego desde 2003 – ciclo que foi quebrado em 2008, período da crise financeira mundial – alimentou o setor de serviços, associado à oferta do crédito pelos bancos, que acabou realimentando o segmento, observa o analista chefe da agência classificadora de risco Austin Rating, Alex Agostini. Não é por pouco que dentro do setor a área que mais cresceu foi a da intermediação financeira, aquela formada por bancos, financeiras, corretoras e distribuidoras de valores. Campeão das taxas medidas pelo IBGE nos últimos 10 anos, essa área cresceu 80,7%, quase 39 pontos percentuais acima da média da economia.
“A redução da inflação e das taxas de juros, com a estabilidade da economia, permitiu ao setor financeiro se desenvolver oferecendo empréstimos de longo prazo, com riscos menores. E a própria geração de emprego e renda levou à abertura de contas bancárias, com a inserção de novas parcelas da população no mercado consumidor, e, assim, a uma necessidade das lojas de recorrer ao crédito para investir, o que realimentou a atividade”, afirma Alex Agostini. De fato, o saldo das operações de crédito cresceu de R$ 943,9 bilhões em dezembro de 2007 para R$ 2,367 trilhões no mesmo mês do ano passado, conforme levantamento do Banco Central.
Efeitos O lado perverso da história está na inadimplência Segundo o BC, 20,4% da renda dos brasileiros está comprometida com dívidas, percentual muito alto para uma economia que busca crescimento sustentável. Diferentemente da indústria, que foi alvejada pelos efeitos da turbulência mundial, o setor de serviços continuou a crescer, lembra o analista do IBGE em Minas Gerais Antônio Braz de Oliveira e Silva.
O setor conta, ainda, com uma vantagem em relação à indústria que é ter crescido repassando o custo dessa expansão para o consumidor, na medida em que não sofre a concorrência das importações. A indústria tem restrições para reajustar seus preços sob pena de o concorrente estrangeiro ganhar seu mercado. Tanto é assim que a evolução dos preços dos serviços de educação e transporte teve fôlego em fevereiro para eliminar parte do impacto positivo para o consumidor da redução das contas de energia elétrica. Na Grande BH, pressionado por reajustes desses segmentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), a inflação oficial medida pelo IBGE, subiu de 0,73% para 0,84%.
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